quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Trabalho de Leituras de Ficção

No semestre passado (3º semestre), durante a matéria de leituras de ficção lemos vários livros. Entre eles "Na Praia", de Ian McEwan. O texto abaixo é uma resenha que produzi ao final do semestre.

Nunca é Fácil

Acompanhando as últimas notícias pela internet, como de costume, me deparei com a manchete “Programa sobre sexo garante vice liderança pro SBT”. Não foi a primeira vez que escutei falar sobre esse programa, porém só tive o (des)prazer de assisti-lo um vez, enquanto pulava de canal em canal numa insonolenta madrugada de domingo.
A apresentadora do programa “Aprendendo sobre Sexo”, Carla Cecarello, tenta se mostrar confortável diante das dúvidas mais cabulosas que as pessoas anônimas perguntam por telefone. Mesmo sendo uma sexóloga, ela não consegue conter os sorrisos amarelos enquanto tenta expressar naturalidade.
Bem, não deve ser fácil para ela falar tão abertamente sobre um assunto que sempre foi tabu. Mas nunca é fácil. Aliás, McEwan teria muito a dizer sobre isso; ele também acredita que sexo não é um assunto fácil..
Florence e Edward, protagonistas de “Na Praia”, livro de Ian McEwan, teriam ainda mais a dizer sobre as dificuldades de um diálogo nesse sentido. Os personagens são jovens educados e virgens, que, recém casados, passam por certas dificuldades na tentativa de consumar o casamento durante a lua-de-mel.
A história do casal se passa na Inglaterra de 62, período pré-revolução cultural, quando, tratar de sexo ainda era um tabu. A falta de informações se ainda mais de experiência de ambos no assunto, faz com que, no livro, o assunto menos comentado seja o sexo.
McEwan trata do assunto da mesma forma que deveria ser tratado na época: com total discrição. Por mais que se fale a respeito, nunca se fala diretamente a respeito.
O que há de mais presente nos diálogos do casal é o silêncio. É nos grandes intervalos entre as breves falas que o autor relembra a vida de cada personagem e ilustra, assim, os costumes da época do silêncio. Com uma brilhante descrição, misturada à discrição, ele marca as dificuldades presentes no ócio do cenário.
Em virtude do desencontro oral dos personagens, eles acabam na pior das situações: o diálogo mais longo que conseguem manter serve, apenas, para marcar o rompimento do casamento, quando, ao trocarem palavras rudes, descobrem que as dificuldades sexuais foram, em virtude cultural, o motivo pela separação dos recém casados.
Claro que, em tempos modernos, se tivessem a opção de pegar o telefone e ligar para a carismática Carla Cecarello, o casal teria um final mais feliz. Não apenas pelo esclarecimento das dúvidas, mas porque a facilidade de estabelecer um diálogo em que o assunto “sexo” pudesse ser, ao menos, mencionado, poderia resolver o impasse do casal.
Se bem que, ainda hoje, falar sobre sexo não é fácil; aliás, nunca é fácil.



Resenha do livro “Na Praia”
Antéia Orteiro Pereira Pinto
Jornalismo 2° ano

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