quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A evolução

Achei esse vídeo no You Tube e decidi postar pra relaxar um pouco. O cara é ótimo...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O começo da dança

Neste último fim de semana aconteceu a “Mostra de Solos Duos e Trios Contemporâneos”, uma oportunidade para bailarinos apresentarem seus trabalhos de pesquisa que possuem mais tempo – o tempo máximo de cada coreografia era de 10 minutos-. Além disso, outra característica da mostra foi, apesar de não ser competitiva, possuir avaliação de jurados que comentavam os trabalhos em um debate no final.

Justamente durante esse debate surgiu uma polêmica: a dança, contemporânea ou não, surgiu da técnica?
Bom, há quem considere o ballet clássico a primeira forma de dança da história. Outras acham que essa forma de expressão surgiu já na pré-história, quando nem se imaginava que existiria o clássico.

Achei esse texto bem bacana e decidi publicar. Ele fala um pouco da ‘história’ da dança.

"A dança foi uma das primeiras formas de expressão artística e pessoal.
Pinturas de dançarinos foram encontradas em paredes de cavernas na África e no sul da Europa na pré-história. Estas pinturas podem ter mais de 20 mil anos. As cerimônias religiosas que combinavam dança, música e dramatizações, provavelmente desempenharam um papel importante na vida do homem pré-histórico.
Estas cerimônias devem ter sido realizadas para reverenciar os deuses e pedir-lhes mais sucesso nas caçadas e lutas. As danças também podiam realizar-se por outras razões: como nascimento, curar um enfermo ou lamentar uma morte.
Os sociólogos acreditam que a dança exerceu um papel importante na caça e em muitas outras atividades da vida pré-histórica. Os cientistas estudam as danças de várias culturas porque as formas de dança de um povo podem revelar muita coisa sobre seu modo de vida. "

O texto integral pode ser encontrado no site “Corpo & Movimento”.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cena 11 e Ballet de I’Opéra de Lyon

Bom, o contemporâneo é considerado tudo aquilo que é novo. Uma linguagem mais solta que possibilita inovações- o que dificulta descrever a dança contemporânea.

Mês passado assisti a dois espetáculos de dança contemporânea. O primeiro no Sesc de São Paulo – da companhia Cena 11- e o outro no Teatro Alfa, também em São Paulo – do Ballet de I’Opéra de Lyon.


O espetáculo da Cena 11 era uma parceria com a companhia Impure Company da Noruega, o tema se baseava em “Consentimento, ocupação e formas de dizer não”. Acho que a apresentação foi tipicamente contemporânea – ainda que a expressão seja muito vaga. 14 bailarinos integravam o espetáculo e cada um apresentou um solo. Pelo que entendi cada um coreografou sua própria performance tentando expressar seu ponto de vista sobre o tema. As ações variavam em andar de costas, rodar de joelhos no chão, alisar o chão com os dedos, e coisas do gênero.



O outro espetáculo da companhia francesa “Ballet de I’Opéra de Lyon” demonstrou um estilo completamente diferente. A apresentação contou com técnica clássica e também com movimentos de ballet moderno e inovações, caracterizando um estilo contemporâneo particular. Foram apresentadas três coreografias: ‘Bella Figura’, com 9 bailarinos, ‘duo’, com duas bailarinas, e ‘Sinfonia dos Salmos’, com 16 bailarinos. As coreografias são repertórios criados em 1995, 1996 e 1978, respectivamente.

A diferença entre ambas a companhias foi ‘gritante’. A primeira representou o contemporâneo de pesquisa e inovador, a segunda, ainda que inovadora, deu valor à linha dos movimentos e técnicas da dança.

Não cabe a mim avaliar os espetáculos mas devo dizer que me agrada muito mais– e digo realmente muito- o ‘Ballet de I’Opéra de Lyon’. Ainda que as inovações da dança permita qualquer coisa, me agrada muito apreciar linhas e movimentações que desenham quase que um poema no palco. Principalmente quando a movimentação também possui uma pesquisa por trás e te transmite um recado ou simplesmente te desperta sensações. De fato me impressionei com a companhia francesa e me decepcionei um pouco com esse espetáculo da Cena 11, que sempre surpreende com suas performances incríveis.


Foto 1: Cia. Cena 11 (Pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente - bailarino:Anderson João - foto: Gilson Camargo)

Foto 2: Ballet de I’Opéra de Lyon (coreografia Symphonie de Psaumes - fotógrafo desconhecido)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"A dança é a linguagem escondida da alma." (Martha Graham)


Danço não apenas por dançar, mas por sentir em cada partícula do meu corpo as notas de uma música que não pára; uma música que surge dentro de mim. Cada vez que penso em dança meu corpo ganha uma vida exuberante, um brilho que nenhum ser humano tem. Minhas mãos falam várias línguas que todos conseguem entender, meus pés ganham vida como se dançassem sós. Meu corpo grita, todas as palavras do meu espírito como se eu nunca tivesse falado. Isso é dançar, isso é viver dança, é sentí-la cada vez mais, isso é apenas dançar.

[autor desconhecido]

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Trabalho de Teoria do Jornalismo

Esse texto está - sutilmente falando - bem ruim. Foi a primeira produção de texto da disciplina, uma tentativa de crônica produzida em aula.
Não estou postando porque gostei do resultado, mas porque o tema é bacana para o blog.
Teoria do Jornalismo
1º Semestre - 2007


Nossa! Estou lutando com as minhas pálpebras, minha boca não para de abrir e minha cabeça parece ceder à lei da gravidade, pendendo de um lado para outro. Engraçado, lembrei-me de uma amiga. Ela sofre de insônia, no fim de semana passado fomos assistir um espetáculo da Ana Botafogo, não houve mais nada que a fizesse dormir tão facilmente. Entre as centenas de pessoas que ocupavam cadeiras na platéia inúmeras bocejavam ou se distraiam, mas no final, claro, as palmas foram ensurdecedoras, afinal ela é Ana Botafogo. Os comentários posteriores defendiam que ela não havia feito nada de mais. E eu me perguntei: Nada de mais? Ela está beirando os sessenta e não fez nada de mais? Ela simplesmente manteve a versão original do repertório, o problema é que hoje, no mundo da dança existe uma competição para ver quem vira mais piruetas, quem gira mais piruetas ou qual ‘developed’ é mais alto. Não existe mais a valorização da arte em si, é preciso inovar, pois nesse mundo globalizado que muda constantemente é necessário estar atualizado, a velocidade de transformações é enorme, e pode ser vista nas tecnologias dos equipamentos de hoje.
Não há nenhum grupo que satirize melhor os ballets de repertório do que o Ballet Trockadero, que virá ao Brasil no final do ano. Eles, que são homens fazendo papéis femininos usando sapatilhas de ponta, produzem um espetáculo que além de contar com muita técnica contém um conteúdo humorístico e relaxante incrível. Não tenho nada de mal para dizer deles, muito pelo contrário, adoro os espetáculos e acho a idéia sensacional, porém por trás disso existe uma pitada de desanimo. Essa é a única maneira de levar a arte a todos os públicos, que de fato já não se interessam por aquela arte “antiquadra”.
Aliás, quem faz isso, ou devo dizer, fazia isso muito bem é Luciano Pavarotti. Ele sim conseguiu levar a ópera ao público fora da ópera. Agora, enfim, ele poderá levar a ópera até o céu, ou para outra vida, enfim, não vem ao caso discutir sobre crenças religiosas. O fato é que lá em cima a coisa vai ficar mais lírica e, com isso, os anjos estarão olhando mais por nós.
Mas será mesmo? Bem, como poso eu, pobre mortal discutir sobre o gosto dos anjos. Antes, talvez, até poderia, mas hoje, com o passo que anda a cultura, acho que não. Creio que após conhecerem os ‘Mamonas Assassinas’ e ouvir de forma humorística e, se me permite dizer, genial a futilidade conformista do nosso povo o pessoal lá de cima já não esteja mais triste e desanimado com a situação deplorável em que o mundo se encontra, quem sabe eles não estariam no clima de alegoria e resolveram comemorar o carnaval no começo de cada ano também.
E, por falar em alegoria, a situação por lá vai ficar no mínimo engraçada. De duas uma: Ou Pavarotti e Mamonas travarão debates intermináveis sobre suas diferenças e semelhanças, até arrancarem seus cabelos, ou, então vão se juntar e produzir uma obra sensacional. Imagina, um CD desses renderia um disco de platina na primeira semana de venda; Gugu e Faustão iriam ter que brigar para saber em que programa ocorreria a entrega.
Mas, deixemos o mundo imaginário de lado, temos que nos contentar com a “Quebra Barraco” que estoura nas paradas. Afinal, essa sim jamais produziria um dueto com Chico Buarque, que, com suas maravilhosas composições, perpetuou, no passado suas musicas. Apesar de que, até essas, perpetuadas, vêm se apagando, juntamente com o lindo e sedutor brilho dos seus olhos, ao passar do tempo.

Trabalho de Oficina de Leitura

Esse texto produzi para um exercício sobre o livro de Marx “O Capital”. Como a dança, principalmente a contemporânea, pode ser um reflexo da sociedade, para pensar em dança é preciso pensar, antes, na nossa sociedade.

Oficina de Leitura III
Jornalismo 3º semestre
Junho de 2008

À luz de Marx, vimos que o processo de produção capitalista é uma fase histórica do processo de produção em geral. Portanto, não é uma fase natural, por passar por mudanças e ser temporal.
O capitalismo se sustenta através da relação de compra e venda entre trabalhadores e capitalistas. Esse processo produz e se reproduz, pois além do resultado da produção, ao final d ciclo ele alcança a situação de onde partiu, dessa forma, se reproduzindo.
Essa reprodução se dá pela dependência existente entre a força de trabalho e os meios de produção. Como, tanto do início como ao fim do processo, há necessidade de compra e venda da força de trabalho, o capitalismo não pode se consumar na ausência de uma dessas partes.
Dessa lógica provém a idéia de “mais-valia”. Essa é a forma específica que assume a exploração sobre o capitalismo. O produto da mais-valia é o valor gerado pelo trabalhador que é apropriado pelo burguês; portanto, qualquer trabalho ou produto por ele gerado que exceda as expectativas é encaminhado para o patrão.
Portanto, a idéia de mais-valia é um contrato aparentemente livre e igual, que remunera o trabalhador segundo seu valor. Na verdade, esse contrato, se assim deve ser chamado, paga ao trabalhador “x” reais, esse trabalhador, então, deve pagar um valor “y” ao capitalista, através da sua mão-de-obra. Mas, quando esse trabalhador efetiva a produção acaba por produzir bem mais do que o valor “y”.
Com isso, o capitalismo ao longo do tempo descobre que aumentando a jornada de trabalho, aumenta-se também a mais-valia. Se, a princípio, a jornada de trabalho consistia em 12 horas, sendo que 10 horas correspondiam ao salário e as outras duas horas consistiam na mais-valia, pode-se transformar a jornada de trabalho em uma carga de 14 horas, onde as 10 horas continuam sendo suficientes para pagar o salário e obtém-se agora 4 horas de mais-valia. Essa é a chamada mais-valia absoluta.
Marx transpassa ainda pelo raciocínio da mais-valia relativa, onde, mantendo-se a jornada de trabalho em 12 horas, é possível também aumentar a mais-valia. Nesse aspecto é preciso que o trabalhador produza a mesma coisa em menos tempo. Se antes eram necessárias 10 horas de trabalho para quitar o salário, agora 9 horas se tornam suficientes, resultando numa mais valia de 3 horas.
Isso só é possível quando modernizam-se os meios de produção – embora o capitalista ganhe menos em cada peça, acaba ganhando mais como um todo, porque assim o número de peças é maior.
Seguindo essa linha de raciocínio, o capitalismo vai diminuir cada vez mais o tempo de trabalho necessário, mantendo a jornada de trabalho. Com isso, o valor da mercadoria vai diminuindo gradativamente. É nesse ponto que se encontra a contradição do sistema capitalista. Já que o valor é medido pelo tempo de trabalho necessário empregado no produto; e esse tempo é diminuído cada vez mais, chega ao ponto que a mercadoria custa quase zero, o que significaria o fim do capitalismo.
No intuito de manter um preço abusivo sob a mercadoria, surgem os monopólios. Em sentido contrário a esse abuso surge a pirataria, que nada mais é do que a prova de que o produto tem um custo muito mais baixo do que é inserido no mercado.
Marx propõe que esse tempo de trabalho economizado no processo de produção se torne tempo livre. Porém, esse tempo livre não é suficiente para emancipar o homem do capitalismo. Isso não basta para o fim da alienação, do fetichismo e da exploração; uma vez que o reino da liberdade só começa depois do reino da necessidade.
Mesmo que o proletário trabalhe visando apenas suprir as necessidades humanas, o trabalho sempre é uma necessidade, portanto acaba sendo uma obrigação. Pode-se dizer que esse é sempre uma imposição injusta porque o que o trabalhador produz nas dez horas correspondentes ao salário, na realidade não pertence ao trabalhador,de modo que ao final do “ciclo” ele tenha novamente que vender sua força de trabalho.
Essa reprodução do ciclo, já citada no início do texto, é o que determina o “salário mínimo”. Este, trata-se da quantia mínima necessária para garantir a sobrevivência do trabalhador. Dessa forma não há dinheiro excedente acumulado,de modo que, uma vez que esse salário mínimo seja alto, o trabalhador acumulará dinheiro esse tornará burguês. Logo, a partir do momento que não existe mais classe trabalhadora, excluí-se também a existência de mão-de-obra, significando assim o fim do capitalismo.
Pode-se dizer que a força de trabalho é a única mercadoria que produz mais valor do que contém. Nisso se expressa a desigualdade do sistema, constatada pela tentativa, já citada, de aumentar o lucro sem compartilhar o valor excedente com o trabalhador, concentrando o capital na mão dos burgueses.
Mesmo fora do capitalismo seria necessário um tipo de trabalho, que teria função de sobrevivência, através disso, se da a conclusão de que o trabalho não se trata de uma ação livre. Porém, o diferencial é que fora do capitalismo, o trabalhador teria um grau de escolha bem maior do que o existente dentro do sistema, no sentido de como trabalhar, o que produzir, quando produzir, e assim por diante.
Além do caráter abusivo, o capitalismo faz os indivíduos assumirem certas funções sociais, onde cada pessoa apresenta um valor correspondente ao papel econômico que desempenha, desprezado assim qualquer caráter interno, ou humano, por melhor dizer, que esse indivíduo possua.
Mesmo dentro desses aspectos, sociais e econômicos, o capitalismo está, segundo a visão do autor, legalmente legitimado, através dos contratos que se estabelecem nas relações.


Antéia Orteiro Pereira Pinto

Trabalho de Processos Jornalísticos

Durante essa disciplina, fizemos análises de diversos jornais e revistas, com editorias variadas. Ao final do semestre (3º) cada um escoheu um tema e dissertou a respeito. Escolhi falar sobre o caso de Isabella Nardoni, não só pela pertinência do caso mas também para tratá-lo de forma diferenciada. Como pretendo, futuramente, me eespecializar em -não chamaria de crítica- analisar diversos tipos de dança, é preciso dar os primeiros passos analisando a forma como as coisas são apresentadas no jornalismo.

Isabella Nardoni

“O circo midiático”

O caso de Isabella Nardoni se tornou assunto de conhecimento da população como um todo. A menina de cinco anos, no final da noite de 29 de março, foi encontrada caída no jardim do prédio em que o pai mora, na zona norte de São Paulo. Isabella vivia com a mãe, porém visitava o pai a cada 15 dias. Alexandre Nardoni, o pai, e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, madrasta, foram levados ao 9º DP (Carandiru) para prestar depoimento, logo após a constatação da morte da garota.
Segundo depoimentos do pai, ele chegou naquela noite ao edifício de carro, com a mulher e os três filhos, que estavam dormindo. Ele teria levado Isabella até o apartamento e deixado-a na cama, enquanto ajudava sua mulher a pegar os outros dois filhos que ainda dormiam no carro; ao retornar, não encontrou sua filha no quarto, que estava com um buraco na grade de proteção da janela. Investigações médicas encontraram lesões incompatíveis com a queda, o que sugeriu que a menina teria sido agredida antes de ser atirada pela janela.
Desde que o caso explodiu, os principais suspeitos foram o pai e a madrasta, que vêm sido julgados, não só pela lei, mas por toda a população. A mídia, desde o início, fez uma cobertura excessiva do caso, noticiando cada momento, cada respiração que pudesse ser uma nova informação, bombardeando um país inteiro com o caso de uma única menina.
O caso de Isabella Nardoni é uma tragédia que virou um circo midiático. Aconteceu no contexto ideal pra ser transformado em uma novela: envolve uma criança; dentro da classe média; e com requintes de crueldade. O caso da Isabela parece ilustrar bem o título de "4º poder" que alguns direcionam ao jornalismo. A cobertura maciça da imprensa criou uma horda de brasileiros sedentos pela solução do caso, que, certamente, faz com que a justiça trabalhe intensivamente.
Entretanto, até mesmo a mídia já admitiu isso. Após muitos bombardeios de matérias sobre o caso Isabella Nardoni, começaram a surgir, então, críticas sobre o tratamento da mídia a respeito. Os textos apareceram em gêneros diversos: Entrevista, coluna, artigos, postagens informais e até comentários em programas radiofônicos.
Por mais diversos que sejam, as textos trabalham basicamente os mesmos aspectos. Um aspecto apresentado pelos críticos é a atitude dos peritos no caso. Então o delegado responsável pela investigação do caso também tem uma parcela, e grande, em qualquer escândalo ou erro na repercussão da tragédia. Quem repassa as informações aos jornalistas é o delegado, claro que cabe à imprensa filtrar as informações, mas se os próprios peritos afirmam uma coisa, a mídia só faz o papel de divulgar as informações, ainda que isso não exclua o circo gerado pela imprensa.
E as críticas prosseguem para o público: Um país acostumado a ignorar as barbaries rotineiras comove-se com um criança singularizada pela tragédia. Dentre tantas crianças que morrerão com a dengue, alta no preço dos alimentos, narcotráfico, guerra no Iraque, crise no Tibete, é esta menina –Isabela- que faz os brasileiros terem uma pausa para pensar.
Além disso, sabe-se que Isabella é uma entre milhares de crianças que sofrem de violência doméstica. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo estão investigando o comportamento de 800 famílias da periferia de SP e, ainda que os dados sejam preliminares, encontraram 20% de crianças vítimas de espancamentos, asfixia, pontapés ou queimaduras, resultando em lesões ou fraturas; mas por causa de suas condições sociais não se transformam em notícia.
Foram registrados no país 49.481 casos de violência grave cometida por familiares contra as crianças em suas casas; nesse período, contabilizaram-se 532 mortes.
O maior problema ainda não está no anonimato desses casos, mas sim na repercussão que isso pode trazer futuramente, pois, crianças agressoras sempre contam história sobre terem sido vítimas de espancamento em casa.
Uma entrevista com a professora Mary del Priori, defende que o noticiário sobre a menina causa comoção porque a morte na sociedade está higienizada, situação que foi rompida com o caso.
Segundo a historiadora, a morte de Isabella é vista como um sacrifício, por causa da mudança do papel da criança (como hoje em dia as pessoas tem menos filhos, concentram neles todas as suas esperanças, o filho representa a continuidade da família).
Para Del Priori, Deus não está mais presente na sociedade, então não se liga mais a morte com um simbolismo religioso.
Alguns críticos defendem ainda que esse amor aos filhos é um aspecto da sociedade contemporânea, costume que surge na Europa nos séculos 16 e 17 entre os mais ricos, pois diminui o tamanho da família padrão atual.
Um ponto muito trabalhado pelas críticas foi a relação desse caso com o antigo caso da Escola de Base. Isso aconteceu em 1994, quando vários órgãos da imprensa divulgaram séries de reportagens sobre seis pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da escola de Base. A divulgação do caso levou à depredação da escola e à prisão dos donos. No entanto, o inquérito policial foi arquivado por falta de provas; não havia qualquer indício de que a denúncia tivesse fundamento. Os acusados pelos abusos deram início ao processo de indenização e vários órgãos da imprensa foram condenados. Os críticos agora, fazem a relação entre os dois casos, dizendo que a lição que deveria ter sido aprendida há anos atrás já foi esquecida e o mesmo erro está sendo cometido.
Todas as provas se dirigem a acusação do pai e da madrasta, como se eles fossem culpados e não existisse outra hipótese. Qualquer pessoa (e me refiro a pessoas normais, donas de casa, trabalhadores, população em geral, que apenas acompanham o noticiário) que seja questionada sobre o caso vai afirmar com convicção que acreditam que o casal Nardoni (pai e madrasta da menina) é culpado; e pior: as pessoas realmente acham que tiram essa conclusão sozinha, como se fosse uma opinião particular; quando é a mídia que está fazendo todos pensarem desta forma.
Caso, posteriormente, descobre-se que o casal realmente não era culpado (e então surge a associação com a “Escola de Base”), não haverá mais como remediar, a vida deles já estará destruída, com a imagem de pessoas que assassinaram uma criança, que para piorar era da família.
Segundo o sociólogo norte-americano, Wright Mills, com a transformação do público em massa, há uma grande desproporção entre os que formam a opinião e os que recebem a opinião já formada (por “peritos”), isso gera a impossibilidade de uma resposta eficaz e a incapacidade de ação do público.
Com base nisso, podemos entender claramente a repercussão do caso Isabella. Um exemplo disso foi a entrevista exibida no último fantástico, com o casal Nardoni (pai e madrasta da menina), que, posteriormente, foi comentada por um pscicólogo. O pscicólogo, que aqui assume o papel de perito, diz que a madrasta é quem domina no casal, porque ficava a todo momento interrompendo o marido; ele disse ainda que o discurso do casal parecia ter sido ensaiado, porque faziam questão de afirmar a todo momento que eles tinham uma relação muito amorosa com Isabella.
Pois bem, acompanhado de outros argumentos, o perito deixou claro que o pai e a madrasta era definitivamente os culpados pelo assassinato, sem deixar possibilidade nenhuma de contestamento; e, com isso, fez com que toda a população brasileira compartilhasse dessa opinião.
Além disso, o fenômeno de massificação, torna a “cultura” um bem de consumo que se torna excessivamente superficial e sentimental, que nunca apela para a razão. Isso está nítido na exposição do caso; todas as notícias que cobrem o assassinato de Isabella apelam para a emoção, e nunca para a razão, a notícia é repassada por âmbitos que comovem o público.
Outro sociólogo, Theodor Adorno, faz uma análise sobre a industrial cultura, onde tudo é transformado em mercadoria, inclusive as emoções. Na industrial cultural, não há mais a noção do individual, a massa apresenta sentimento coletivo e se satisfaz com o sucesso dos outros, que é o que acontece na torcida organizada de um campo de futebol, ou até mesmo nas ligações para o vencedor do “Big Brother”.
Pois bem, após tantas críticas sobre a cobertura da mídia já está entendido que até mesmo os próprios jornalistas concordam com o exagero da repercussão e admitem o circo midiático que isso gerou. Mas, as próprias pessoas que criticam são aquelas que, de alguma forma, participaram e contribuíram para o processo de montagem desse circo.
A própria Folha de São Paulo publicou entrevistas e colunas sobre a polêmica do caso, mas foi justamente a Folha de São Paulo que publicou inúmeras matérias a respeito do assunto e contribuiu para o bombardeio das informações A folha online chegou a publicar cerca de vinte matérias por dia sobre as notícias de Isabella. Dentre as informações constavam opinião de vizinhos, provas infundadas, sentimentos de pessoas que nem envolvidas no caso estavam, só faltou escutarem a opinião do cachorro do vizinho para saber como ele estava se sentindo com a morte da menina.
Não há como dizer que a mídia não deveria ter dado importância ao caso. Mas foi um exagero de notícias relevantes. Além disso, o jornalismo publica o que o publico quer ver, certo ou errado já se torna uma questão mais social do que jornalística. O público despertou interesse e acima de tudo um sentimento ferido com a tragédia, se um repórter apurou alguma informação sobre o caso, ou buscou informações novas, por mais irrelevantes que fossem, ele, certamente, fez isso porque interessava ao seu superior, ou até mesmo, foi o tal superior que solicitou as informações. Se o editor do jornal, então, publicou as informações teve de fazer isso pois o público queria ver isso e, se o jornal não apresentasse essas notícias, não venderia exemplares, pois perderia o interesse do público, se um jornal não vende, ele pode ir à falência.
Então, jornalistas criticam o tratamento da mídia mas contribuem para a armação do circo, pessoas dizem que já estão estagnadas dos bombardeantes noticiários sobre o caso Isabella Nardoni, mas continuam prestando atenção a cada nova informação. Estamos aqui diante de uma grande contradição, e, mais do que isso, diante de um antigo dilema: Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
Segundo Hanna Arendt, o fenômeno da cultura de massas é um problema da conjuntura histórica, não é algo recente, e, também, não será algo que vai desaparecer tão brevemente da nossa realidade. Se o público (a grande massa) não filtra nem analisa as informações que recebe, isso é culpa dos meios de comunicação que passam a informação de uma maneira superficial e sentimental, e se a mídia repassa a informação dessa forma é porque é esse tipo de informação que atrai o público. Estamos, talvez, diante de um beco sem saída. Talvez a solução fosse tratar as notícias de uma outra forma e repassar as informações de uma outra maneira; e claro isso só funcionaria se todas as redes da mídia se tornassem públicas e não tratassem a informação como mercadoria. Ou melhor, talvez nem isso adiantasse, uma vez que, quando toda a imprensa se torna pública, fica nas mão de um único “proprietário”, o governo, que, desta forma, poderia “manipular” as informações, e neste caso, não houvessem vários pontos de vista sobre um mesmo assunto.
Mas, divagar sobre as soluções para a situação atual da mídia não vem ao caso. O fato é que, o caso Isabella Nardoni criou um circo midiático, com uma quantidade exacerbada de informações relevantes e, o que é pior, sensacionalistas, que prejudicaram, de forma justa ou injusta, a vida de um casal, que a partir dessa tragédia foram arruinados.




Antéia Orteiro Pereira Pinto
Jornalismo 2° ano
Processos jornalísticos II